domingo, 14 de junho de 2009

Á luz de todas as noites...

Escrivaninha V -

À luz de todas as noites ...

Nos idos de setenta fui tão fã de Bethânia, ainda gosto imensamente da sua voz e principalmente das letras. Ela trouxe-nos Fernando Pessoa que eu declamava com a força dos pulmões no jardim da casa de praia . Da janela do segundo andar recitava para minha mínima platéia; nossa secretária doméstica que ria sem parar com seus dentes muito brancos, Eva deu uma saudades também de ti...

Fui morar em SP e minha irmã ligava e dizia- " hoje ouvi M.Bethânia e lembrei de ti...”

Hoje passando pelo recanto da Letras conheci um escritor que falava do Circo e voltei no tempo. Lembrei-me do disco Drama - Luz da Noite de desta artista ímpar.

Já não sou a mesma embora encontre a quem necessite do despertar que a eterna musa brasileira é capaz.

É incrível o quanto nossa memória é capaz de guardar aquilo que nos afeta verdadeiramente. Felizmente sobrevivi aos tempos da ditadura, quando até para cantar era necessária imensa potência transgressora. Confesso que saí desta fase com arranhões no peito e voz. Mas apesar da gagueira afetiva sarada em termos, e com certa rouquidão, ainda cito de cor alguns versos ...

Eu não sou apenas essa hora -Em que me vês precipitada -Eu não sou senão uma de minhas bocas - Eu sou uma árvore ante o meu cenário ...

Estou também àrvore , com tronco à espera de nova brotação mas como flores temporãs as palavras dedico a alguns contemporâneos que não tiveram minha sorte de nascer em família anarquista;

“Era uma vez, mas eu me lembro como se fosse agora. Eu queria ser trapezista, minha paixão era o trapézio. Me atirar lá do alto na certeza de que alguém segurava-me as mãos, não me deixando cair. Era lindo mas eu morria de medo, tinha medo de tudo quase: cinema, parque de diversão, de circo, ciganos, aquela gente encantada que chegava e seguia.Era disso que eu tinha medo: do que não ficava pra sempre. Era outra vez outro parque, outro circo, ciganos e patinadores. O circo chegou à cidade, era uma tarde de sonhos e eu corri até lá. Os artistas se preparavam nos bastidores para começar o espetáculo e eu entrei no meio deles e falei que queria ser trapezista. Veio falar comigo uma moça do circo que era a domadora, era uma moça bonita, mas era uma moça forte, era uma moçona mesmo. Me olhou, riu um pouco e disse que era muito difícil mas que nada era impossível. Depois veio o palhaço Polly, veio o Topsy, veio Diderlang, que parecia um príncipe, o dono do circo, as crianças, o público... De repente apareceu uma luz lá no alto e todo mundo ficou olhando. A lona do circo tinha sumido e o que eu via era a estrela Dalva no céu aberto.Quando eu cansei de ficar olhando pro alto e fui olhar pras pessoas, só aí eu vi que estava sozinho”. -
Este belíssimo texto é de autoria do dramaturgo Antônio Bivar e abre a faixa número 3 do disco supracitado.

Nesta noite de domingo a temperatura está mais amena e, talvez por este motivo meus dedos não estejam preguiçosos, como trapezista salto no tempo revirando registros, sacudindo a cauda inquieta da leoa que fui e, com um pouco de graça do palhaço e sensualidade da bailarina atiço a quem passa ...

Cantemos meus caros amigos, pois foi que cantando pelas grandes paixões da adolescência que nos tornamos também, um pouco Poetas, Palhaços e sobretudo Equilibristas ...

3 comentários:

  1. texto de Antônio Bivar

    Minha querida amiga, como você foi feliz neste texto, eu adorei ler,além de adorar circo, e o trapezio, sempre para mim o melhor momento do circo.

    Boa semana FUTURECIDA!

    Efigênia Coutinho

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  2. Esplêndida memória Vi querida!!!!
    Já ia sair da net...quando resolvi dar mais uma
    última olhadinha no teu jardim...QUE BOM!
    Adorei tuas palavras...(fiquei imaginando você recitantdo no jardim...queria ter assistido)
    e o texto do Antonio Bivar...e M.Bethânia...
    TUDO JUNTO....QUE BELO ESPETÁCULO!
    Sabe.... Eu Amo o Circo
    E o trapézio também é minha paixão
    Trouxe-me lembranças deliciosas Vi!
    Com a alma bailando... vou dormir mais feliz
    Grata sempre pelo calor do teu compartilhar
    Amiga Poeta além mar...poesia pura!
    Beijinhos ternos... mais abraço com carinho da Li que te admira muito muito muito

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  3. grata queridas Efigênia e Eliana , adoradores do circo, dele tenho algumas poucas memórias , não era tão fã assim,hoje gosto bem mias, eu preferia a magia dos palcos mesmo, a cortina do teatro abrindo-se e os atores com suas vozes potentes ... frequentávamos bastante o teatro...as palavras e as grandes interpretações tocaram-me de forma impressionante, de certo que o trapézio deixava-me sem fôlego sempre ! aprendiz de Equilibrista esta libriana ..risos, adoro vcs.
    muito obrigada !

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comentários são bem vindos, grata!