segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Ano Novo – mais um - Maria Lindgren


Ano Novo – mais um -
            Por Maria Lindgren*


Levo o segundo semestre do ano com medo dessa época de muitas recordações de tempos que a vida engoliu; temo chorar mais que devo ou passar os dias com aquele famoso nó nas entranhas.

Passou o Natal. Razoavelmente bem, não fora o calor de rachar exatamente no dia 24 e a falta de alguma gente da maior importância para mim. Ótima comida e bebida, em companhia dos que puderam estar. Pior seria ficar só em casa, sem celebrar como muitos a alegria do renascer de Cristo ou o Papai-Noel repleto de presentes ou ainda apenas seguindo autômatos a solidariedade de um dia, que ainda persiste no mundo cristão. Pelo menos, é o que dizem cá no ocidente, imitador eterno do que vem do Primeiro Mundo, de tradição protestante, hoje, meio chué, mas ainda Primeiro, para nós colonizados embasbacados.

A missa da manhã do dia 25 foi a melhor parte. Não por minha crença absoluta, senão pela paz ao cantar os cânticos a plenos pulmões, ao dizer A Paz de Cristo aos companheiros de assentos, ao rezar o Padre-Nosso de mãos dadas com desconhecidos, ao comungar a Hóstia Sagrada, mesmo sem confessar, o que é um enorme progresso da igreja católica. E que gosto bom tem a hóstia de hoje! Gosto do perdão aos pecadilhos, de benção do Corpo de Cristo para nossas vidas, de esperança de menos sofrimento para o mundo e para nós!

Minha igreja estava linda, enfeitada de verde e branco, com seu presépio modesto e acolhedor, o Menino numa mangedoura verde-bandeira, como a nos mostrar que, sem o verde no planeta, não sobreviveremos. Verde de esperança, por certo.

Logo em seguida, preparativos para o Réveillon magno do Rio de Janeiro e mínimo para quem não quer sair de casa, enfrentar multidões. As lojas mixurucas no Natal, porque repletas de bugigangas natalinas e desejo frenético de vender, às vésperas do Ano Novo ficam um póuco mais elegantes. Nem de longe lembram as da Quinta Avenida, em Nova York, ou as do Faubeaurg Saint-Honoré, de Paris. Em todo caso, lojas e shoppings capricham no melhor de seu gosto, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Até mesmo exibem vestidos de noite, sempre em branco ou amarelo ou em ambas as cores. Tudo com um certo brilho de tecido e luzes.

Se têm comprador, não se percebe, dado que o povo das ruas hoje, em nossa cidade, está mais para a Classe C do que para a B e muito menos, a A, que esta não se vê mais nem em revistas, depois que viraram socialites e celebridades. Ah os tempos do Ibraim Sued, do Jacinto de Thormes em que as grandes familias de banqueiros e empresários não se escondiam, como agora, do mesmo modo que não se exibia a corrupção com descaramento. Éramos enganados numa boa, ficávamos babando de inveja, e concordávamos que dinheiro grosso não era mesmo pra qualquer um, pobres de nós! E mais: aristocracia não se comprava na esquina. Vinha de gente privilegiada por Deus, eu acho. Até mesmo decorávamos os nomes importantes, até que começaram a ruir ou apenas desaparecer em nuvens nunca explicadas. Morte? Talvez. Ou mudança de feição social. Entramos na era da banalização das fortunas – vide os jogadores famosos de nosso futebol – da expansão do mau-gosto da TV Globo, do dita-moda de qualquer um...

Daí que uma frustração menor nos ataca nos preparativos do Réveillon: não admiramos N-I-N-G-U-É-M. Podemos, pois, nos voltar para os que realmente merecem a fama de extraordinários, como os artistas verdadeiros de todas as artes, os que sempre mereceram, os que agora merecem e os que virão a merecer no futuro. Menos mal.

Feliz e discreto Ano Novo, minha gente! Que de explosões estamos fartos.
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Colunista do Portal VMD - Nome: Maria José Lindgren Alves-Pseudônimo: Maria Lindgren -Emails: mlindgren202@yahoo.com.br  ou m-lindgren@uol.com.br -Mestrado em Educação – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC/RJ - 1999 Especialização em Lingüística Aplicada ao Ensino de Língua Inglesa – Universidade Federal do Rio de janeiro – UFRJ – 1991 - Licenciatura em Letras : Português – Inglês – Universidade Federal Fluminense – UFF, 1976. - Revisora e avaliadora de textos pedagógicos do INEP/MEC, de 1999 a 2003.- Escritora literária: livro publicado: UMA ROLHA NA LÁGRIMA(coletânea de contos e crônicas)– 2004.- Contos publicados na antologia Uruguaia Cuentogotas: Encontro Inusitado, em português e Alta Fidelidad, em espanhol, Editora Bianchi Pilar, Movimento Cultural ABRACE, Montevideo, 2006.
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Ilustrado por virgínia fulber - Escultura em mármore carrara de Carlos Cesar Freire (Tito) Artista brasileiro residente na Alemanha - http://carlosfreirearts.blogspot.com/
















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