trechinho da aula do Prof. Claudio
Ulpiano sobre Lucrécio e Espinosa 16-06-1994
"(...)Pela
Vênus Voluptas, a alegria e a prática do prazer se dariam integralmente. Então,
apareceu uma coisa muito estranha. É que nós estamos vendo uma filosofia se
confrontar com algo considerado pelos homens, talvez, como o mais importante de
suas vidas ― que é o amor.
Então, essa filosofia está surpreendentemente
afirmando que o amor ― de maneira alguma ― nos traria a felicidade. E essa
filosofia é toda ela dedicada às PRÁTICAS; e ela diz que há duas práticas ― a
PRÁTICA DO PRAZER e a PRÁTICA DA DOR. E ela vai afirmar que o amor é aquilo que
nos traz muita dor ― porque nós dependeríamos permanentemente de alguma coisa
exterior a nós mesmos. Enquanto que Vênus Voluptas, que é a amizade,
comunidades de amizade gerando prazeres, independentemente de relações de
qualquer um com qualquer um, não nos conduziria a essa posição do amor. Faria
aparecer o que é mais importante na vida ― que é a liberdade. A liberdade seria
conseguida pela Vênus Voluptas, mas seria impedida pelo Eros....
(...)Então, aqui vocês recebem a
informação principal do que é exatamente a minha maneira de trabalhar em
filosofia: a filosofia, a arte e a ciência ou a vida só têm um instrumento de
libertação ― o pensamento. Então, isso se torna simples? Não. Isso se torna
muito complexo, porque a partir de então, nós temos que verificar o que é o
pensamento.(...)
(...)
Porque o sujeito psicológico que nós somos é constituído por associações de
idéias. Nós vamos passando de uma idéia para outra, de um fato para outro: diz
outra coisa meu amigo! Aí nós vamos conversando de uma coisa para outra, de uma
coisa para outra, aí não abandonamos nunca o sujeito psicológico que nós somos.
Para entrar no pensamento é fazer esse percurso em direção aos mundos
possíveis, é sobretudo quebrar essas associações de idéias. Porque essas
associações de ideias são exatamente a doxa e aquilo que nos dá um conforto,
uma segurança. Nós passamos a achar que está tudo bem, que está tudo tranquilo,
que está tudo calmo: não está; não está! Nós estamos diante do caos. Nós
estamos diante do caos, nós estamos diante do vazio e é o pensamento que tem
que confrontar com ele e de lá trazer alguma coisa. (...)
Vocês,
então, têm aqui a tríade: sujeito psicológico, objeto e pensamento. Como minha
primeira exposição de pensamento, o pensamento seria, no caso do Espinosa, o
que ele vai chamar de ideia expressiva. A ideia expressiva é porque o
pensamento é aquilo que expressa esses mundos possíveis, enquanto que o sujeito
manifesta as suas psicologias. Nós vamos diferir um sujeito humano ― ele está
sempre manifestando os seus fantasmas, as suas biografias… E quando você lê
esses textos de best
seller, os sujeito é sempre fantástico (não é?). É sempre um sujeito
fantástico, que é diferente do que o Proust está dizendo do pensamento ― que é
a entrada nos mundos possíveis. Isso vai se chamar idéia expressiva. (Eu
acho que foi bem, não é?). Chama-se IDÉIA EXPRESSIVA, no sentido de que
expressa os mundos possíveis. E o sujeito é aquele que manifesta a sua
psicologia.
(fim de
fita)
Parte 2
A
representação representa os nossos estados psicológicos, a nossa biografia, os
nossos fantasmas. Enquanto que a expressão, a idéia expressiva, à diferença da
idéia representativa, (aí que vai começar a ficar difícil, eu vou fazer um
esforço enorme para vocês entenderem…), a idéia expressiva não expressa o
psicológico. Ela vai expressar o que em Proust chama-se mundos possíveis e em
Espinosa chama-se terceiro gênero do conhecimento. Aí, veja bem, é possível que
nós possamos dizer algo que não seja da nossa psicologia, dizer algo que está
em nós, mas não é psicológico. É como se fosse uma unidade diferente, alguma
coisa que nos pertencesse, mas não fosse nosso; alguma coisa do espírito, mas
não da nossa biografia, não da nossa subjetividade. Ou seja, a função da arte
não é contar os nossos sofrimentos pessoais, a função do pensamento não é dizer
da nossa história, da nossa biografia, mas é expressar isto que eu estou
chamando de mundos possíveis. (Dois pontos, que eu vou começar a explicar. Acho
que foi bem outra vez, não é?).
O que eu
quero que vocês marquem, que não se esqueçam, é a distinção entre idéia
expressiva e idéia representativa ― e a propriedade que eu coloquei na idéia
representativa, que é a distância. Isso daqui é fundamental no momento em que a
gente for trabalhar em arte. Que a distância faz parte da representação. E um
outro fato que eu distingui, fiz uma distinção entre manifestações psicológicas
e expressões de alguma coisa que está dentro, mas que não é psicológico.
(Então,
vamos fazer essa passagem, eu vou para dois minutinhos para tomar um café.
Podem perguntar também).
É o que
vocês vão fazer para fazer o uso da vida de vocês. Ou seja, tornar esse planeta
magnífico ou, mais do que nunca, torná-lo paranóico e insuportável, como ele é.
Quase que já explodindo, de tão insuportável que ele é.(...)
toda aula do Prof. Claudio
Ulpiano sobre Lucrécio e Espinosa 16-06-1994 http://claudioulpiano.org.br.s87743.gridserver.com/?p=2891
ilustração - Vênus de
Bouguereaul
Nenhum comentário:
Postar um comentário
comentários são bem vindos, grata!