domingo, 23 de agosto de 2009

da passividade à criatividade passando por conceitos de D. Winnicott


Para ser criativo é preciso ter um cerne pessoal, ter um cerne secreto, um ponto sagrado e isolado onde cada um é a si mesmo do modo mais radical, de onde toda verdadeira criatividade emerge.
Winnicott nos fala da capacidade de estar só que expressa e constitui este espaço sagrado interno.

Quando o eu pode integrar o impulso do id aparece uma vida criativa e espontânea. Quando a criança pode estar só é que pode descobrir sua vida pessoal própria. Portanto, a criatividade decorre desta capacidade de ficar só e vivenciar o que é próprio. Quando não há esta capacidade o que temos é uma vida reativa a estímulos externos, o que Winnicott chama de uma vida com um falso self.
Quando a criança, e o adulto também, têm a capacidade de ficar sós, podem digamos assim relaxar. Nesta situação a criança pode experimentar de modo não persecutório a capacidade de estar não-integrada, de devanear, de estar em um estado de desorientação, de estar em um estado que não precisa reagir às contingências externas, nem mesmo precisa atender às demandas internas que a levem a uma dada direção. Neste estado de desorientação não-paranóide tudo está preparado para o aparecimento do impulso do id. O impulso será recebido então como algo próprio e pessoal. Por isso tudo é importante a presença de alguém, disponível e sem exigências. Quando chega o impulso, se há este
acompanhamento, então poderá haver um aproveitamento produtivo, criativo.
D. Winnicott criou conceitos de falso e verdadeiro self a partir do "desenvolvimento emocional primitivo", cujos efeitos, segundo ele, são de importância crucial para o indivíduo por se estenderem para além da infância. Muitos problemas da fase adulta estariam vinculados a disfunções ocorridas entre a criança e o "ambiente", representado geralmente pela mãe.

O Self verdadeiro seria "É aquilo que, embora indefinível, faz o indivíduo sentir que ele é único." A relação com a mãe leva o bebê a administrar a própria espontaneidade e as expectativas externas. "Se a mãe aceitar as manifestações do bebê - como a fome, o desconforto, o prazer e a vontade -, em vez de impor o que acredita ser o certo, o bebê vai acumulando experiências nas quais ele é sempre o sujeito, e o self que se forma pode então ser considerado verdadeiro"- Bogomoletz.

Já o self construído em torno da vontade alheia é o que Winnicott chama de falso e que priva o indivíduo de liberdade e de criatividade.

"O holding- conceito de Winnicott é o somatório de aconchego, percepção, proteção e alegria fornecidos pela mãe", (ainda pode ser traduzido como Colo -)

Promover um ambiente em que haja holding significa tratar cada pessoa (criança) como esta precisa . O termo “inclusão”, se levado a sério, indica uma atitude de holding. O acolhimento adequado pode, portanto, ajudar uma criança regida por um self falso - geralmente boazinha e obediente - a se tornar mais espontânea. “No entanto, é preciso que o ambiente aceite as temporadas de 'mau comportamento'. "Trata-se de adotar sempre uma postura tolerante e criar condições para que a criança desfrute de liberdade. Nada mais importante, nesse sentido, do que o papel da brincadeira - fundamental para Winnicott, não apenas na infância, por misturar e conciliar o manejo do mundo objetivo e a imaginação. "Brincar pressupõe segurança e criatividade" - Bogomoletz.
"Crianças com problemas emocionais graves não brincam, pois não conseguem ser criativas."
O viver não criativo se manifesta neste caso em pessoas firmemente ancoradas na realidade, mas doentes no sentido de que perderam o contato com o mundo subjetivo e com a aproximação criativa dos fatos.

A idéia de uma vida submissa é descrita em Winnicott com o auxílio do conceito de um eu com um falso self, com uma falsa personalidade (Winnicott,1983, p. 128-39). É uma idéia que tem origem em Freud, quando este destaca que o eu pode estar orientado para o exterior e relacionamentos com o mundo em detrimento do contato com a sexualidade.

Winnicott destaca uma sobreadaptação egóica. O eu está tão aterrorizado com as demandas do id que se afasta de todas as suas excitações; o eu se torna incapaz de incorporar as excitações, que são vividas de modo traumático. Neste sentido, o eu é incapaz de sustentar os riscos envolvidos e as frustrações necessárias no caminho de poder experimentar a satisfação do id.

O falso self pode se implantar com tanta intensidade que passa a ser confundido socialmente com a personalidade real. Em casos menos extremos o falso self defende o verdadeiro self que permanece operante em alguma parte da vida psíquica. O falso self pode ser associado a uma rigidez de defesas; não
raro, no caso de o indivíduo dispor de grande capacidade intelectual, o falso self se manifesta na vida intelectual. Há dissociação neste caso entre a vida intelectual e a experiência psicocorporal.

Donald Woods Winnicott nasceu em 1896 numa família rica de comerciantes em Plymouth, na Inglaterra. Ao entrar na faculdade de Medicina, foi convocado para servir como enfermeiro na Primeira Guerra Mundial, na qual fez as primeiras observações sobre o comportamento humano em situações traumáticas. Especializou-se em pediatria, trabalhando 40 anos no Hospital Infantil Paddington. Paralelamente, preparou-se para ser psicanalista. Trabalhou como consultor psiquiátrico do governo, tratando de crianças afastadas dos pais na Segunda Guerra Mundial. Em 1949, separou-se da primeira mulher, a artista plástica Alice Taylor. Dois anos depois, casou-se com Clare Britton, psicanalista e organizadora dos trabalhos do marido. Foi presidente da Sociedade Britânica de Psicanálise e morreu em Londres, em 1971. O interesse de Winnicott pelo estudo da construção da identidade veio da percepção da influência sufocante da mãe depressiva em sua personalidade. Ainda criança, Winnicott enveredou pelos caminhos da observação científica ao ler os estudos do naturalista Charles Darwin (1809-1892). Já pediatra, conheceu a obra de Sigmund Freud (1856-1939), fez terapia e freqüentou o grupo de Bloomsbury - integrado, entre outros, pela escritora Virginia Woolf (1882-1941) -, em que a psicanálise era tema recorrente.

2 comentários:

  1. Virgínia minha querida Amiga...
    As vezes não tenho idéia do que posso ler para me ajudar a entender um pouco mais as crianças e assim poder dar uma ajudinha extra...
    Mas você parece uma fadinha que adivinha o que preciso e me traz...
    Mil vezes grata por mais este que postou aqui
    É maravilhoso mesmo!
    Tua preciosa Amizade é um aprendizado sem fim
    e uma alegria para minha alma.
    GRATA MANAMIGA VIRGÍNIA!!

    Beijinhos ternos da Li que te Adora

    ResponderExcluir
  2. querida Eliana que bom saber que aproveitaste a leitura , um prazer contribuir para teu excelente trabalho, se quiseres ler mais visite
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Donald_Woods_Winnicott
    abraços de carinho e admiração

    ResponderExcluir

comentários são bem vindos, grata!