domingo, 26 de julho de 2009

Assim escrevo...

Assim escrevo....
Eliana f.v. – Li Andorinha

Fujo da idealização
Sigo meus instintos
comandados pelas...
sensações

Aceito como certo
desvencilhar-me de ditames

Contemplando a natureza
e todo seu encanto
deixo-me levar
pelos acontecimentos

Esqueço o ranço teórico
Aprendo experimentando

Dou asas à imaginação
brinco com o arrepio de medo
que inventa assombração

Agora sou toda rebelião
salientando o significado
de cada instante

Se alegre eternizo-o
Se triste enfrento-o...

Para gozar...
No suspiro do alívio
25-07-2009

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Saudando os Escritores em seu Dia


<...O Dia do escritor me faz pensar nos grandes expoentes que foram nossos mestres, nos quais nos apoiamos e com quem aprendemos a avaliar em cada linha a qualidade de suas prosas ou poesias. E exaltá-los por todos os momentos em que estivemos em contato com eles, usufruindo a literatura, exaltando-a e transformando-a no elo que une todos os seres humanos num movimento de amor e compreensão. Vânia Moreira DinizJulho- 2009 >

...
Mais produtivo do que tentar definir Literatura talvez seja encontrar um caminho para decidir o que torna um texto, em sentido lato, literário. A definição de literatura está comumente associada à idéia de estética, ou melhor, da ocorrência de algum procedimento estético. Um texto é literário, portanto, quando consegue produzir um efeito estético e quando proporciona uma sensação de prazer e emoção no receptor. A própria natureza do caráter estético, contudo, reconduz à dificuldade de elaborar alguma definição verdadeiramente estável para o texto literário. Para simplificar, pode-se exemplificar através de uma comparação por oposição. Vamos opor o texto científico ao texto artístico: o texto científico emprega as palavras sem preocupação com a beleza, o efeito emocional.
No texto artístico,ao contrário, essa será a preocupação maior do artista.


É óbvio que também o escritor busca instruir, e perpassar ao leitor uma determinada idéia; mas, diferentemente do texto científico, o texto literário une essa instrução à necessidade estética que toda obra de arte exige. O texto científico emprega as palavras no seu sentido dicionarizado, denotativamente, enquanto o texto artístico busca empregar as palavras com liberdade, preferindo o seu sentido conotativo, figurado.

O texto literário é, portanto, aquele que pretende emocionar e que, para isso, emprega a língua com liberdade e beleza, utilizando-se, muitas vezes, do sentido metafórico das palavras.
A compreensão do fenômeno literário tende a ser marcada por alguns sentidos, alguns marcados de forma mais enfática na história da cultura ocidental, outros diluídos entre os diversos usos que o termo assume nos circuitos de cada sistema literário particular.
Assim encontramos uma concepção "clássica", surgida durante o Iluminismo (que podemos chamar de "definição moderna clássica", que organiza e estabelece as bases de periodização usadas na estruturação do cânone ocidental); uma definição "romântica" (na qual a presença de uma intenção estética do próprio autor torna-se decisiva para essa caracterização); e, finalmente, uma "concepção crítica" (na qual as definições estáveis tornam-se passíveis de confronto, e a partir da qual se buscam modelos teóricos capazes de localizar o fenômeno literário e, apenas nesse movimento, "defini-lo").

Deixar a cargo do leitor individual a definição implica uma boa dose de subjetivismo, (postura identificada com a matriz romântica do conceito de "Literatura"); a menos que se queira ir às raias do solipsismo, encontrar-se-á alguma necessidade para um diálogo quanto a esta questão. Isto pode, entretanto, levar ao extremo oposto, de considerar como literatura apenas aquilo que é entendido como tal por toda a sociedade ou por parte dela, tida como autorizada à definição. Esta posição não só sufocaria a renovação na arte literária, como também limitaria excessivamente o corpus já reconhecido.
De qualquer forma, destas três fontes (a "clássica", a "romântica" e a "crítica") surgem conceitos de literatura, cuja pluralidade não impede de prosseguir a classificações de gênero e exposição de autores e obras.-
A Wikipédia possui o Portal de Literatura-Mayara Bravim

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Elenir Burrone -cachorro não é gente

Adeus a Capitu ...O clichê diz que o cão é o maior amigo do homem. Amigo tem uma raiz linguística fascinante que identifica a palavra com o amor, outra palavra interessante, que tem uma parte de delícia, prazer e malícia e outra de dor. Um parente disse, incautamente, que “cachorro também é gente”. Acho que não soube formular exatamente o seu conceito: cachorro não é gente, tem as prerrogativas de gente porque se coloca ao nosso lado, mas tem algo mais, que só se revela quando olhamos para ele e enxergamos a busca de nós mesmos. Seus olhos, nesse momento revelam-nos o que somos: queridos ou abominados. Cachorro é espelho....
Nele podemos ver-nos com a nudez da verdade, se é que ela existe. O que via, nos olhos de Capitu, era comoção, era resignação de quem busca e sabe que nunca vai encontrar porque o mistério é o limite que nos foi imposto. Ontem tive que dizer adeus a Capitu. Ela se foi. E eu não me encontro em Camões e acho que nunca mais terei para onde olhar e ver-me tão bem refletida como em suas pupilas tão lindas de cor tão indefinível, tão indefinível como é o mistério da vida e da morte.- Elenir Burrone in -Adeus a Capitu

terça-feira, 21 de julho de 2009

Viver - Amauri Ferreira *

Viver
Amauri Ferreira *

Amadurecemos muito mais quando nos relacionamos com aqueles indivíduos que ativam os diferentes “eus” que estão em nós. Isso acontece nas relações que são desprovidas de julgamento, de censura, de vergonha, de cobrança – deixar-se viver, não levando o outro e nem a si mesmo a sério, é tudo o que importa. Não há dúvida de que o lúdico e a inocência dos nossos atos nos dão a confiança necessária para desejar que esses estranhos em nós sejam evocados. Como somos contagiados pela alegria que nasce nos encontros com alguém, certamente o nosso amor pela vida torna o amor que nasce no outro cada vez mais forte... Há um acúmulo recíproco de riquezas e, como conseqüência, podemos até afirmar que praticamente existe uma “disputa” de quem pode doar mais, de quem pode produzir mais. A qualidade da relação não poderia ser avaliada por tudo aquilo que nos desperta, que nos leva à ação e à nossa despersonalização?... Nessas experiências sentimos que somos ora mais jovens, ora mais velhos, e que também somos pais, filhos, homens, mulheres, animais. Protegemos e somos protegidos, ensinamos e aprendemos, esperamos e somos esperados. E, além disso, aprendemos a viver num ritmo em que o tempo cronológico deixa ser a referência do nosso percurso espiritual – assim conquistamos o tempo dos afetos... Isso tudo é exatamente o oposto das relações tristes, que reproduzem o ódio e o ciúme, que envolvem julgamento, censura, vergonha, medo e, em suma, constrangimento da nossa natureza. As relações tristes não cessam de reprimir os nossos “eus” ao reforçar a identidade, a função social, o papel familiar, o lugar no mundo - um mundo cada vez mais desprovido de emoções. Tristeza e falta são apenas conseqüências de uma vida que não aprendeu a rir, que leva demasiado a sério os "problemas-do-cotidiano-que-atormentam-o-seu-euzinho"... Mas quando beijamos os dedos de uma de nossas próprias mãos para, em seguida, encostá-los carinhosamente sobre o peito de alguém que amamos, muita coisa pode ser mudada... Viver é, sobretudo, tocar e ser tocado, e transformar-se, transformar-se, transformar-se...
Amauri Ferreira é Prof de Filosofia da Escola Nômade autor do Livro Introdução à filosofia de Spinoza- Editora Quebra Nozes- e Colaborador do Canal de Filosofia do espaço Ecos Portal VMD

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Doce Amizade

Vânia Moreira Diniz



Na esperança de meu olhar,
Na claridade que experimento,
Sinto a saudade a me congelar,
E viajo nesse estranho sentimento.

Visualizo então seu carinho protetor,
Amigos que amei tão instintivamente,
Sentindo na energia do espaço o sabor,
Da afeição natural,sincera e veemente.

Elo forte e persuasivo nos prendeu,
Na expressão das palavras a explodir,
E já nem sei de que forma se ergueu.

Outras horas de união hão de vir,
E sinto no peito doce emoção,
Amizade profunda, uma lição!

Vânia Moreira Diniz

Amigos,
Para o dia do Amigo uma Homenagem, reafirmando carinhosamente que a amizade verdadeira é um tesouro raro e precioso

sábado, 18 de julho de 2009

.O Céu Embaixo da Terra &..Contos da Infância Galáctica- Marcelo Gleiser

O Hubble não passa de um robô extremamente sofisticado, desenhado para colher imagens de alta precisão de objetos celestes próximos e muito distantes.
Assim como ele, existem muitos outros robôs observatórios colhendo dados em regiões do espectro eletromagnético além das que nos são visíveis. Um exemplo recente é o observatório espacial Glast, que estuda a radiação eletromagnética (RE) mais energética, os raios gama. De passagem, menciono que um dos operadores principais do Glast é o físico brasileiro Eduardo do Couto e Silva (tema da coluna de 15 de junho de 2008).
Mas existe outro tipo de astronomia que, paradoxalmente, para estudar o que existe nos céus, é realizada embaixo da Terra. Para entendermos como isso é possível, é bom lembrar que a luz, os raios X, os raios gama e as várias outras formas de RE são compostas de partículas chamadas fótons. Os telescópios que captam a luz, os raios gama ou outros tipos de RE são, na verdade, detectores de fótons, como se fossem redes de pesca desenhadas para apreender essas partículas. Só que os fótons não são as únicas partículas que existem nos céus. Pelo contrário, muitas outras “chovem” continuamente sobre nós. A maioria faz parte dos chamados raios cósmicos, compostos principalmente de prótons, elétrons e múons, que são elétrons mais pesados. Outras são os neutrinos, as “partículas-fantasma”, produzidas no coração do Sol. Neutrinos são capazes de atravessar a matéria normal como se fossem fantasmas.
Paredes ou mesmo a Terra inteira não são obstáculos para eles. Algumas partículas, como os elétrons e os múons, também penetram a matéria por boas distâncias. Portanto, para estudar os neutrinos sem a interferência de outras partículas, físicos usam cavidades subterrâneas, em geral minas abandonadas. Nelas, montam seus “telescópios”, detectores capazes de identificar as raras colisões de neutrinos com a matéria comum.Existem outras partículas cruzando o espaço ainda mais misteriosas do que os neutrinos. Delas sabemos apenas que não são como a matéria comum. Elas não produzem RE, como fazem os elétrons. Portanto, não brilham, sendo conhecidas como “matéria escura”. Sabemos que existem apenas porque sua massa afeta o comportamento das galáxias pela gravidade. Cada galáxia tem uma espécie de véu de matéria escura, com uma massa que chega a ser dez vezes maior do que a massa de todas as suas estrelas.
A matéria escura também é caçada em observatórios subterrâneos. Até agora, nenhuma candidata foi detectada, o que causa uma certa ansiedade nos físicos. Mas também aumenta o seu fascínio. Vivemos numa realidade dominada pelo que nos é invisível
. -O Céu Embaixo da Terra -Artigo originalmente publicado na Folha de São Paulo em março de 2008


Sabemos hoje a idade do Universo: em números arredondados, 14 bilhões de anos. Esse é o tempo passado desde o Big Bang, o evento que deu origem a tudo. Sabemos, também, que o Universo é salpicado de centenas de bilhões de galáxias, cada uma com milhões ou até centenas de bilhões de estrelas. Esse é o caso da nossa galáxia, a Via Láctea, onde o Sol é uma humilde estrela em meio a tantas outras.



Mas não se iluda pensando que essas estrelas todas estão pertinho umas das outras. Não, o espaço é praticamente vazio, e as distâncias entre as estrelas são em média de dezenas de anos-luz. Ou seja, viajando à velocidade da luz, demoraríamos dezenas de anos para ir de uma a outra.
Mesmo com tantas estrelas, a galáxia em si é tão enorme que as distâncias entre elas são…astronômicas. A Via Láctea tem um diâmetro de 100 mil anos-luz. Com tecnologia atual, demoraríamos em torno de 25 mil anos para atravessar um mero ano-luz. A galáxia inteira tomaria uns 2,5 bilhões de anos. Penso nisso e sinto uma grande solidão: estamos mesmo muito isolados do resto do cosmo, nós e os outros planetas do Sistema Solar, todos eles -ao menos hoje- sem vida.
A Terra é uma ilha de atividade biológica em meio à desolação total que nos cerca por muitos anos-luz. Mas o Sol não é a única estrela. E a Via Láctea não é a única galáxia. Hoje temos uma visão do cosmo que é semelhante à de um campo com árvores de Natal espalhadas na noite escura.
Cada árvore iluminada é uma galáxia, e as luzes, suas estrelas. Na escuridão da noite, vemos apenas as luzes das árvores piscando, parecendo flutuar pelo campo afora. Assim nos parecem as galáxias, formadas apenas de estrelas e gás. De perto, porém, a história é outra. Na árvore de Natal existe uma estrutura que sustenta as lâmpadas, a árvore e os seus galhos. Mas e nas galáxias? O que as sustenta? Em cada uma delas existe também uma estrutura, uma teia invisível de matéria que dá suporte às estrelas e ao gás que produz sua luz.
Só que essa teia invisível não é feita da mesma matéria que as estrelas e as nuvens de gás. Essa “matéria escura” – esse é o seu nome – não tem nada a ver com a matéria comum que conhecemos. Ninguém sabe que matéria é essa. Mas sabemos que cerca de 80% da massa das galáxias corresponde a essa matéria e não às estrelas. Exagerando um pouco a metáfora das árvores de Natal, nelas também a massa em matéria escura – o tronco e os galhos – é bem maior do que a massa total das pequenas lâmpadas.
Uma das questões de ponta em astrofísica, fora, claro, o que é essa matéria escura, é como nasceram as galáxias. Sabemos que a grande escultora das formas cósmicas é a força da gravidade. Dado que 80% da massa das galáxias é em matéria escura, é claro que sua dinâmica de formação também é dominada por esse tipo de matéria. Estudando as propriedades de galáxias quando o Universo tinha 7 bilhões de anos, metade de sua idade atual, astrônomos descobriram que as coisas eram semelhantes; os mesmos tipos de galáxias, com a mesma dinâmica: galáxias espirais cheias de estrelas nascendo e galáxias elípticas com estrelas velhas.
A matéria escura cria poços gravitacionais para onde flui a matéria normal, que forma as estrelas. Esse movimento causa ondas de choque violentas. Quanto mais matéria escura, mais violenta a onda de choque. Nos casos mais dramáticos, o choque pode interromper a formação de estrelas. Galáxias elípticas são as que têm a formação de estrelas interrompida mais cedo. Mesmo que ainda existam muitos pontos obscuros, a infância das galáxias começa a ser desvendada.
Marcelo Gleiser é professor de Física Teórico no Dartmouth College, em Hanover (EUA) e autor do livro “A Harmonia do Mundo”Este artigo foi originalmente publicado na Folha de São Paulo em 24 de agosto de 2008

Realidade– Uma Década Do Sonho VMD



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sexta-feira, 17 de julho de 2009

memórias - elenir burrone

memórias
(para virgínia e lu)


no vão da janela, o céu espia, distraída, a vida, lá dentro, desafia seu fio, vazia, vazia: um chinelo sem pé, um casaco sem braços, um copo pela metade, de chá, café, sabe-se lá...,livros meditabundos na estante, uma estátua nua, que se esconde, na sombra do abajur, do olhar cúpido do visitante indesejado, no ar, um gosto de solidão
só o olho do velho, desperto, habita a sala, vagueia, encontra os olhos curiosos do céu, pisca, arrisca-se, arremessa-se: azul com azul, mar, imensidão..., a lembrança do velho voa, salta da rocha escarpada, mergulha nas águas escuras, sente o frio de uma realidade antiga e traz, lá do fundo, um grito de espanto, um riso cristalino, mãos de ânsia estendida, boca macia que esmaga
o sol arde, é verão, e o universo solitário do avô enche-se de calor que o céu e a lembrança despertaram-lhe no coração-

*Elenir Burrone professora de língua portuguesa dirige a OFICINA LITERÁRIA PÁSARGADA MOCOCA – SP - Brasil-
"Ninguém é totalmente feliz/Ninguém é totalmente bem sucedido/O momento é um convite apenas/ Um convite para ser vivido"
ilustração Obra Renè Magritte - por virgínia

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Parabéns Discutindo Literatura por seus Quatro anos

Com uma inquietude e senso investigatório notável encontrei Luciana. Sua inteligência e sensibilidade agregou em sua Comunidade no Orkut;Discutindo Literatura criada em julho de 2005, mentes de extraordinária competência. Encontrei neste espaço abertura às discussões e sobretudo à escuta indispensável ao diálogo, como disse Paulo Freire nem sempre o diálogo implica em perguntar e responder... A Discutindo Literatura é um acontecimento que promove encontros. Diante de alguns Entrevistados na Comunidade, enquanto em silêncio lemos ( ouvimos ) a dialógica está acontecendo. Além das Estrevistas excelentes, a dinâmica da Comunidade abre-se como um leque de criatividade, instigando os participantes a compartilhar suas produções literárias, estejam publicadas ou não, estimulando e desafiando a todos a levarem mais a sério seus sonhos e projetos.Como nestes dias a Discutindo Literatura completa, com sucesso seus quatro anos de existência, resistindo através do esforço incansável de sua criadora , que além das acima mencionadas qualidades, agrega em sua personalidade uma leveza e luminosidade cativante, não menor que sua simplicidade e vontade de fazer amigos , quero registrar meus sinceros parabéns.Tão válidas iniciativas são raras nestes tempos de visibilidade individual.Sou imensamente agradecida por encontrar-me entre os participantes da Comunidade, que também promove amizades pois nesta cultiva-se um pouco ainda, do desinteresse e real vontade de acrescentar conhecimentos e divulgar sem reservas a cultura e, no fazer de laços afetivos que transcendem a si mesma, numa constante tentativa de avanço à espaços não só gregários. Assim sinto-me à vontade para saudar Luciana e agradecer –lhe por tudo quanto nos enriquece, assim como aos participantes que com ela tornam possível o andamento deste projeto merecedor de respeitável reconhecimento .

Enxurrada - Luciana Pessanha Pires



Enxurrada
Tivesse coragem mudaria o rumo, seria a mulher virtuosa de provérbios, cumpriria meus votos, não iria vistoriar a volta do pé de ninguém, nem iria rodar a baiana quando pisassem no meu calo, usaria mais eufemismos e a quem me pedisse a capa eu daria, mas eu não dou minha cara a tapa e sempre tenho algo a falar em qualquer reunião, é chato sempre ter algo a falar, mais chato ainda é nunca ter nada a ser dito.Gosto de boas intenções, tenho tantas boas intenções, se fosse planta e vingasse daria um jardim imenso, infelizmente muitos planos se perdem, meu curso de fotografia sempre adiado, um rosário de decisões para viver amanhã, tempo perdido com inutilidades.Pessoas fora do seu estado normal são divertidas, eu fico assim se me obrigam a engolir sapos, se convivo por muito tempo com gente cheia de pose, ou com gente com cara de enterro, pior ainda se for com gente paroleira que desaba-se em perguntas cretinas sobre o peso, a careca, o casamento que ainda não aconteceu, a gravidez um pouco demorada, o divórcio, a morte de algum familiar ou qualquer outra perguntinha cercada de veneno.Incrível como pessoas podem se especializar em inconveniências, a lista seria numerosa, não vale a pena desfiá-la, melhor puxar outros fios, novelos cheios de cores, como minha paixão por cachoeiras, margaridas e lírios do campo, histórias lidas de trás para frente, poemas, tardes contemplativas em algum café, chá de capim limão, rede, boas risadas com os amigos, um fio de conversa que dura uma noite inteira e não se acaba, uma taça de vinho, um sarau, um recadinho na secretária eletrônica, alguns luxos em forma de abraços, massagens, toques nos cabelos, um aproveitamento verdadeiro dessa vida, que se traduz em confiança.Se alguém confia em mim, pronto, sou um cão fiel. Falta de respeito eu não admito, chutar cachorro morto não faço, gosto de brigar com quem esteja em pé, mas tem quem bata e depois se agache, isso me dá uma raiva! Ainda bem que passa logo que não vou virar um saco de amargura, não eu que aprecio cores fortes, que dos embates da vida e da velhice não tenho medo, só quero mais que viver, quero existir, existir a contento.(Luciana Pessanha Pires)

domingo, 12 de julho de 2009

Sentidos - Amauri Ferreira

Sentidos

Quando entendemos que nos relacionamos com o mundo sempre de maneira fragmentada, percebemos que cada elemento da natureza exprime uma riqueza própria, de modo que toda a realidade é renovada pelas singularidades. Quando escutamos uma música, percebemos que há um mundo envolvido na maneira de frui-la: o conforto da poltrona onde sentamos, a ausência de ruído na sala, a necessidade de suspendermos a visão, as lembranças que emergem juntamente com os movimentos musicais, os braços que balançam, as lágrimas que escorrem, em suma, um outro que nos habita revela-se para a nossa consciência – a experiência musical, por não limitar-se à audição, é, antes de tudo, uma grande aliança entre os nossos sentidos. Mas uma poltrona desconfortável, um ruído na sala, os olhos que se abrem, fazem que o mergulho cada mais profundo em nossas lembranças seja bruscamente interrompido: então, a experiência torna-se radicalmente diferente, apesar da música ser a “mesma”. Experiências singulares, acontecimentos: isso ocorre com todas as coisas que nos relacionamos, mesmo quando não nos atentamos à múltipla riqueza de um mesmo objeto, pois, afinal, o nosso corpo sempre deseja outros corpos. É por isso que quando o nosso corpo se relaciona com um outro corpo humano, os nossos sentidos deleitam-se com a imensidão de um novo mundo que abre-se para eles. Através do nosso tato, nos enchemos de alegria: seja quando tocamos, de maneira dengosa, a pele do outro corpo, com os nossos dedos que deslizam sobre o rosto, as orelhas, o pescoço e as pernas, ou então, quando a palma da nossa mão junta-se com a de alguém, conseguimos perceber o movimento de fechar as mãos apenas iniciar-se, ou, ainda, quando há um delicado roçar entre os narizes... Através da nossa visão, nos enchemos de alegria: quando olhamos, atentamente, para os olhos de alguém, conseguimos acompanhar, no intervalo das piscadas, o brilho da vida que emana dali... Através do nosso olfato, nos enchemos de alegria: quando encostamos o nosso nariz na pele de alguém, sentimos o cheiro da vida... Através da nossa audição, nos enchemos de alegria: quando ouvimos um voz sussurrada bem próxima ao nosso ouvido, com um tom tão delicado, que percebemos que ela expressa um enorme cuidado de não afastar a presença do silêncio – afinal, as palavras sussurradas se entendem muito bem com o silêncio... Através do nosso paladar, nos enchemos de alegria: quando beijamos alguém lentamente, sentimos o sabor do amor... Devemos nos livrar do amor a uma pessoa, a um suposto objeto completo, porque é um amor idealizado, sintoma de desperdício do corpo, de desprezo dos sentidos – por isso é inevitável que esse amor seja pobre. Quando menosprezamos o corpo, cometemos o nosso maior erro: como não mudamos a nossa vida, não podemos mudar a vida de alguém... Devemos amar o que se passa em cada sentido, amar as intensidades, para compreendermos que não somos apenas um, mas muitos. Isso é uma relação de amor para com alguém, para com todo o mundo. É impossível que cada toque, olhar, cheiro, som, sabor, seja uma experiência igual a outra. Afinal, cada sensação tem o seu ineditismo, sua singularidade, e viver é alimentar-se a todo momento das diferenças, do inesgotável.


Outra crônica excelente do autor Respiro


Todo corpo e toda mente são perfeitos. O que faz uma mente ser
mais perfeita do que outra é a capacidade de uma produzir mais
idéias do que a outra ...


O corpo sempre sofre afecções — ou modificações — nas misturas com outros
corpos e a mente produz idéias dessas afecções. Porém, Espinosa faz uma observação importante a respeito da união da mente e do corpo: "Ninguém, entretanto, poderá compreender essa união adequadamente, ou seja, Distintamente,se não conhecer, antes, adequadamente,a natureza de nosso corpo." (Ética, 2,Prop.13, esc.).
...A vida humana torna-se pesada quando se tenta, a todo momento,
corrigir a falta dessa ordem imaginária



Amauri Ferreira é Filósofo e colaborador do Canal de Filosofia do Espaço Ecos Portal VMD