segunda-feira, 9 de março de 2009

Gentileza Gera Gentileza - Marcio José







Gentileza gera Gentileza

por - Marcio José - Filósofo Clínico -abril 2005
“Este é o profeta Gentileza que gera gentileza, amor, mostra a maldade da humanidade”


Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
A palavra no muro
Ficou coberta de tinta
Gentileza gera Gentileza.


Uma simples frase de difícil aplicação. Tanto quanto as que dizem: oferecer a outra face ou perdoar o irmão... afinal, o outro é meu inferno, já apregoava Sartre...
Na verdade, estava escrevendo um artigo sobre a memória da Filosofia Clínica, catando pedacinhos de historicidade gravadas em papel, mesclando/brincando com algumas pitadas de Bergson, quando, subitamente, fui atropelado por Gentileza. O mesmo Gentileza cantado por Gonzaguinha e Marisa Monte.
Quem hoje chega ao Rio de Janeiro, pela Avenida Brasil, passando pelo Viaduto do Caju até chegar à rodoviária, pode ter uma grata surpresa, entre as poluições, sonoras, químicas e visuais. Escrita à altura de quem anda de ônibus, estão lá, são 55 páginas-pilares, um livro urbano aberto, descortinado, ao alcance de todos.


Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
Só ficou no muro
Tristeza e tinta fresca


Em 1997, a Companhia de Limpeza Urbana, em plena crise de identidade, sem saber distinguir o que é sujeira do que não é, jogou cal sobre as escrituras. Queria “limpar” a área. Graças ao empenho do professor Leonardo Guelman, que coordenou um trabalho de recuperação, denominado Projeto Rio com Gentileza, contando com a participação da Universidade Federal Fluminense, Secretaria de Cultura do Rio mais o Consórcio Novo Rio. Durante os anos de 1999 e 2000 foi restaurado o que é considerado o maior mural espontâneo do Rio. Esse movimento gerou dois CDs, em 1997, o “Univverrso Gentileza” e, em 2000, “Brasil: Tempo de Gentileza”.


Nós que passamos apressados
Pelas ruas da cidade
Merecemos ler as letras
E as palavras de Gentileza


José Datrino, nasceu em Cafelândia, estado de São Paulo, aos vinte anos mudou-se para a cidade de Mirandópolis,no Rio de Janeiro. Chegou a ser proprietário de uma empresa de transporte de carga, possuía alguns terrenos, três caminhões. Quando, em 1961, abandonou tudo após um grande incêndio em Niterói/RJ, que destruiu o Grã Circus Norte-Americano, ceifando centenas de vida, em sua maior parte de crianças. Seis dias após essa tragédia, esse pequeno empresário, sentiu-se chamado por vozes astrais a abandonar seus bens materiais e dedicar-se ao mundo espiritual Neste momento nascia o Profeta Jozze Agradecido, ou como ficou mais conhecido, Profeta Gentileza. Plantou flores e horta sobre as cinzas do circo. Alimentos da alma e do corpo. E ficou por quatro anos no local consolando os familiares dos que ali morreram.
Reza a lenda que ele adaptou um caminhão seu com dois tonéis cheios de vinho e passou a distribuir a bebida em pequenos copos plásticos, dizendo “Quem quiser tomar vinho não precisa pagar nada, é só pedir por gentileza, é só dizer agradecido.” Começava assim sua peregrinação que durou trinta e cinco anos.
Chegou a ser internado algumas vezes em instituições psiquiátricas, afinal não é “normal” ser gentil. E quando lhe ofereciam dinheiro ele, gentilmente falava: “Eu não aceito dinheiro de ninguém.” E completava: “Muitos puxam o dinheiro para me dar, eu não aceito. ‘ Eu não quero seu dinheiro, meu filho, quero muito mais: quero seu espírito para Deus’. Se eu receber dinheiro, estou vendendo uma coisa que não comprei. Se eu recebi uma graça de Deus, eu tenho que entregar de graça.”


Por isso eu pergunto
A você no mundo
Se é mais inteligente
O livro ou a sabedoria


Na década de setenta andou pelas ruas do Rio de Janeiro, na Central, Cinelândia, no Largo Carioca, nas barcas Rio-Niterói, nas cidades da Baixada Fluminense e mais tarde por outras cidades do Brasil, pregando. Sempre carregando seu estandarte rodeado de flores, inserindo-se na galeria de tipos urbanos, alguns achavam que ele era um profeta, outros que era um maluco, a quem respondia: “sou maluco para te amar e louco para te salvar”.
Nos anos oitenta inicia as suas inscrições nos pilares do viaduto do Caju, trabalho que irá perdurar até 1991. Nas páginas de concreto escreveu: “Agora o capeta do homem, que é o capitalismo, é que vende tudo, destrói tudo, destruindo a própria humanidade”. Durante a ECO-92, Gentileza se posicionava estrategicamente por onde passavam os dirigentes de outras nações e representantes do povo, chamando-os a viverem em Gentileza e a aplicarem em toda a Terra.


Como nos lembra Leonardo Boff, resgatando a figura do Profeta: “não bastam os patronos [do Rio de Janeiro] que temos, São Sebastião e São Jorge. Eles ainda usam símbolos de violência, a flecha no corpo e a lança contra o dragão. Precisamos de um símbolo puro como o Profeta Gentileza.”


O mundo é uma escola
A vida é um circo
Amor palavra que liberta
Já dizia o poeta.


Profeta Gentileza, em suas palavras e gestos, ensinava que todos nós devíamos falar “por gentileza” em vez de “por favor”, “agradecido” em vez de “obrigado”, pois ninguém deve favor a ninguém e ninguém é obrigado a nada nessa vida. Gentileza morreu em 1996, aos 79 anos, na cidade de Mirandópolis, em São Paulo.


Essa parte se encerra com um convite a um sorriso, a um cumprimento... Isso pode não mudar o mundo mas torna a vida do semelhante (e a sua) um pouco mais suave, o que já seria um grande motivo. Ou não? Afinal, “gentileza gera amor e paz”.

TUDO A VER I


GENTILEZA (Gonzaguinha)
Feito louco
Pelas ruas
Com sua fé
Gentileza, o profeta
E as palavras
Calmamente semeando
O amor à vida
Aos humanos, bichos, matas
Terra, Terra, nossa mãe

TUDO A VER II


Traduzindo, da singular escrita gentileza, para nossa singular língua, algumas das frases-pilares
“Toda bondade que vai crescer no mundo vai ser por intermédio do Rio de Janeiro, no Brasil, porque o profeta Gentileza é brasileiro.”
“Nunca sou pobre, nunca estou doente, nunca sou velho, nunca morro.”
“O dinheiro destrói a mente da humanidade. O dinheiro coloca a humanidade surda. O dinheiro destrói o amor. O dinheiro cega. O dinheiro mata.”
“Por que Deus é Gentileza? Porque é Beleza, Perfeição, Bondade, Riqueza, a Natureza, Nosso Pai Criador.”
“Cuidado cabecinha da humanidade, cuidado lingüinha. Lá no cemitério tinha uma caveira, alguém foi no cemitério e perguntou: - Caveira, quem te matou, caveira? A caveira respondeu: - A língua ferina, é verdade!”
“O padre ta esmolando, o pastor ta pastando e o papa ta papando, papão”
“Quem não veio para servir, não serve para viver, deve desaparecer.”
“A pessoa espiritualizada nunca morre, morre o nosso corpo, morre a matéria, o espírito não!”
“Cigarro é chaminé do capeta”
“Calça não é pra mulher não”
“Peito aberto o diabo ta perto”
“Eu pergunto a vocês: no mundo meus filhos, que é mais inteligente o livro ou a sabedoria? Não é a sabedoria? Então, eu sou a sabedoria, nós somos a sabedoria de Deus”.


TUDO A VER III




Em sua mão carregava um estandarte
“As flores é porque eu sou o jardim ambulante”
“Vocês são a flor do meu jardim”
“Agora o catavento é para refrescar a mente da humanidade”
“A bandeira, a nossa bandeira brasileira é a mais linda do universo. O verde é dos verdes campos, vida. O amarelo é a beleza, a natureza. O branco e á a paz, a pureza, a liberdade e o azul é o azul do céu. Logo, nossa bandeira é a bandeira mais linda do universo, porque traz a cor do universo.”

TUDO A VER IV


Sobre sua forma de escrever, explicava:
“Enquanto o amor material se escreve com um R, o amorrr universal se escreve com três. Um R do Pai, um R do Filho e um R do Espírito Santo - Amorrr”
O Univervvverrsso é a criação conjunta de F/P/E (Pai, Filho, Espírito Santo) em VVV e duplamente participação em RR e SS”


artigo de abril 2005 -Márcio José Andrade da Silva -INSTITUTO PACKTER – RS
Centro de Filosofia Clínica – Campinas/SP –
CEFIB – Centro de Filosofia Brasileira – UFRJ
CEUCLAR – Centro Universitário Claretiano – Campinas/SP-
E Mail -marciojosefc@terra.com.br

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